terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Sobre o calóptero...

Caminhar, percorrer estradas. Fazer o mundo girar sobre e sob os seus pés.

Conhecer, descobrir, descortinar.
Respirar.


As paisagens vão ficando pra trás e com elas, as verdades. Pro caminheiro, sua mente vai tomando a dimensão do mundo. E quanto maior, menor ele se sente.
Melhor ele se sente.
Quem anda a pé pelas estradas não está, na verdade, com os pés no chão. Mas só o caminhante é quem percebe.


Caminha sozinho, mas não é solitário. Porque conforme vai caminhando, o mundo não mais é visto em partes. Tudo vai se juntando, até tudo se tornar uma coisa só. É nessa hora que a caminhada começa, mesmo que esteja há tempos na estrada.

Os pés doem. A sede começa a tilintar, a fome aperta. Mas tudo isso é só prenúncio de descanso logo adiante. De água corrente numa cachoeira que ninguém viu e de um pé de goiaba estrategicamente plantado por Deus.

Nesse programa, não há tempo para sentir pena dos que vivem seu mundo multi-facetado.
Dos que fogem da vida.
Dos que querem vencer a vida, competir, vencer o tempo.
Vencer.
Verdades vencidas.
Estão mortos os que têm mais conhecimento do que coragem, assim como os que têm mais títulos do que vontade.

E pra onde vai me levar o próximo passo? Aonde ele quer ir? Não se está interessado em saber, isso não é da conta do caminhante. E dessa forma, jamais se perde. Aprende. Aprende que não querer nada é ser invencível. E vai.


E usando os pés, a vontade e outros trans-portes, chega num pequeno vilarejo que não está no mapa. Conhece pessoas que não existem no mundo real. Graças a Deus. Vindo junto com elas, histórias que são oferecidas com tal orgulho, quais toalhas de renda. Um universo tecido com carinho desde o sempre pelas suas mãos no profundo tear dos tempos. E você descobre que ouvir é um modo prazeroso de se fazer amizade.

À noitinha, as novelas não seduzem mais do que as conversas com os vizinhos. Crianças brincando nas ruas e cadeiras nas portas das casas de noite tomam um papel muito mais sério e importante do que qualquer forasteiro poderia perceber. Ele só desconfia que nisso está a chave da soberania quase palpável do lugar.
E o forasteiro sorri admirado. E volta para a estrada. O mundo precisa girar.